Texto de apoio para a dissertação sobre método científico e senso comum:

12 de abr. de 2011

CIÊNCIAS NATURAIS E CIÊNCIAS HUMANAS


Separação e distinção entre Filosofia e Ciência

Na Idade Moderna, com a chamada revolução científica do século XVII, teve início a separação e a distinção entre a Filosofia e a Ciência, com o consequente desdobramento da última, nos séculos posteriores, em Ciências Exactas, Naturais e Humanas ou Sociais, ou melhor, em diferentes maneiras de realização do ideal de cientificidade.

É comum dizer-se que a Ciência, como um modo de conhecer o real, distinto daquele da Filosofia, só teve o seu advento no século XVII, com os trabalhos de Galileu e Descartes, visando estabelecer método, conceitos e objectos de estudo, a partir da experimentação e do modelo da linguagem matemática. Observa-se, assim, primordialmente, a matematização da Natureza e, neste caso, a concepção de Ciência de Galileu é exemplar, porque, para ele, "o grande livro da Natureza está escrito em caracteres matemáticos", estando ausente dessa concepção de ciência toda a referência ao subjectivo e ao qualitativo (tal como concebido por Aristóteles). Para Galileu, fazer Ciência corresponde a analisar os corpos da Natureza através de suas características quantitativas e objectivas, ou seja, de sua forma, espaço, tempo, movimento, extensão e não de suas cores, sabores e odores, tendo em vista um saber verdadeiro, identificado ao saber matemático, cujas verdades são necessárias, universais, rigorosas, precisas e objectivas. Desde então, falar em Ciência significa perseguir um ideal de objectividade e de cientificidade, nos moldes da Matemática e não da Filosofia, voltada para o sujeito do conhecimento. Ciência significa, portanto, objectividade do conhecimento.

Tendo por objecto de estudo a Natureza, as Ciências Naturais (Física, Química, Biologia, Geografia) se separam da Filosofia a partir do século XVII, tomando como modelo o ideal de cientificidade calcado na Matemática e validado pela experimentação. Como essas Ciências são capazes de estudar a Natureza de modo preciso, rigoroso e, de certo modo, acabado, só restará à Filosofia dedicar-se ao estudo do Homem. No entanto, no século XIX e no início do século XX, surgem as Ciências Humanas ou Sociais (Sociologia, História, Antropologia, Psicologia, Linguística, etc.), que reivindicam para si a propriedade de estudar esse objecto em conformidade com o modelo das Ciências Naturais. O aparecimento das Ciências Humanas termina por separar e distinguir a Filosofia da Ciência. Não há, então, mais algum modo de relacionar a Filosofia e a Ciência? Não tem mais a Filosofia nenhum papel na compreensão da Natureza e do Homem? É preciso, assim, retomar a relação entre Filosofia e Ciência como formas distintas de colocar problemas.


A questão da objetividade e da cientificidade na Ciência e nas Ciências Humanas.

A partir da Revolução Científica do século XVII, o estatuto de cientificidade da Ciência passa a ser definido em função de um método rigoroso, pautado numa linguagem matemática, exacta, objectiva, universal e necessária, desvinculada de toda a subjectividade e valor. A Ciência deve, assim, ser entendida como uma forma de conhecimento, cuja tarefa é a de apropriar-se do real e explicá-lo de modo objectivo, mediante o estabelecimento de leis universais e necessárias entre os fenómenos, leis estas previsíveis e passíveis de controle experimental. Observa-se, deste modo, uma relação intrínseca entre a cientificidade e a objectividade de uma ciência.


O modelo de cientificidade e de objectividade da Matemática e das Ciências da Natureza torna-se o ideal de cientificidade e de objectividade a ser procurado nas Ciências Humanas. Toda esta busca suscita uma série de questões: as Ciências Humanas, tendo uma especificidade própria, não devem ser construídas segundo o modelo de explicação das Ciências Naturais? Se elas não seguem este modelo, podem ser ditas Ciências? Se o modelo de cientificidade das Ciências Naturais se estrutura na objectividade, na ausência de aspectos subjectivos e qualitativos, como fazer com que as Ciências Humanas sejam Ciências, se o seu objecto de estudo, o Homem, é o domínio da subjectividade, dos valores? Sendo assim, podem ser construídas segundo outro modelo de cientificidade? Em suma, questiona-se a cientificidade da Ciência em termos restritos à objectividade. São as Ciências Humanas apenas o domínio da subjectividade? Não são estas Ciências subjectivas e objectivas no que se refere aos seus objectos de estudo? O mesmo não poderia ser dito das Ciências Naturais?


Todas estas questões apontam para a problemática da subjectividade e da objectividade nas Ciências Naturais e nas Ciências Humanas. Neste aspecto, a crise dos fundamentos, ocorrida no final do século XIX e no decorrer do século XX, tornou possível pensar a construção de um modelo de cientificidade para as Ciências Humanas e a Filosofia, em moldes distintos daqueles das Ciências Naturais."


Adaptado de http://www.sectec.rj.gov.br/redeescola/especialistas/filosofia/tema02/fil-tm02.html


EXPLICAÇÃO E COMPREENSÃO


O século XIX assiste a um despertar e a um desenvolvimento do estudo do homem, da sua história, da sua linguagem e dos seus costumes, equivalente àquele que no século XVII se verificara relativamente ao estudo da natureza. Ou seja: tal como as Ciências da Natureza nascem, na sua cientificidade própria e específica, no século XVII, também as Ciências Humanas, as Ciências Sociais ou Ciências do Espírito nascem efectivamente no século XIX. Não nascem, todavia, pacificamente. Esse nascimento é marcado por um conflito de modelos de inteligibilidade [...].


Neste conflito entre modelos de inteligibilidade, um dos pólos é representado pelo positivismo, que [...] procura, na concretização desse sonho, transpor para as Ciências Humanas o ideal da inteligibilidade em que assenta a cientificidade das Ciências da Natureza. [...]

Ao primado metodológico das Ciências da Natureza sobre as Ciências do Espírito defendido pelo positivismo, vai opor-se um grupo de autores extremamente significativo na segunda metade do século XIX, de que é justo destacar Droysen e Dilthey, que virão a cunhar definitivamente os conceitos de explicação e compreensão e a pugnar tenazmente pela autonomia metodológica das Ciências do Espírito.


[...] É neste quadro que se insere a reformulação do binómio metodológico entre as Ciências da Natureza e as Ciências do Espírito, por Droysen e por Dilthey. O primeiro cunha definitivamente a distinção entre explicar e compreender, como indícios e marcas de dois processos distintos no âmbito do saber: assim, ao método científico físico-matemático corresponderia um conhecimento explicativo e ao método científico histórico corresponderia um conhecimento compreensivo. Dilthey aprofunda esta distinção institucionalizando correlativamente a expressão Ciências do Espírito. Assim, para ele, as manifestações da vida e as objectivações do homem no mundo social e histórico constituem o principal ponto de abordagem das Ciências do Espírito e a via de acesso a elas é a compreensão, a qual definirá a atitude hermenêutica face à história".


J. M. André (1993). "Natureza e espírito", 0 Professor, 35, Nov/Dez, pp. 8-10.





Conhecimento sociológico e métodos



A utilização do método científico que a sociologia utiliza, como outras ciências (adaptando-o ao estudo do homem e da sociedade) possui as seguintes etapas:


- OBSERVAÇÃO

- CLASSIFICAÇÃO

- INTERPRETAÇÃO/GENERALIZAÇÃO


A OBSERVAÇÃO é a etapa no qual se escolhem e se anotam da aspectos da realidade que se transformam em dados a respeito de um fenômeno que se pretende estudar. Ela implica numa seleção parcial da realidade (não se pode observar tudo), por isso, é uma dimensão muito importante de qualquer pesquisa.


A observação pode ser direta, quando o próprio pesquisador participa dela, por exemplo, quando entrevista alguém ou oberva alguma situação (o comportamento de donas de casa num supermercado, por exemplo) ou indireta, ao coletar dados já existentes ou que ele não produziu. Por exemplo, Durkheim pesquisou as séries estatísticas sobre suicídio que estavam disponíveis e utilizou-as como os dados, posteriormente trabalhados, de sua pesquisa.


É justamente o trabalho a partir dos dados o que caracteriza a etapa da CLASSIFICAÇÃO. Ela é uma primeira etapa analítica, na qual os dados são agrupados conforme indicadores de interesse e perspectivas teóricas. Por exemplo, se se quer entender se são as mulheres ou os homens que bebem mais vodka, a partir de dados sobre o consumo de bebidas, a característica "sexo" será um elemento da classificação. Os tipos de técnicas de classificação e análise dos materiais coletados são variados, podendo estar relacionados a técnicas qualitativas (interpretativas) ou quantitativas, geralmente estas com o uso de quantitificações e estatística.


A etapa mais sofisticada do uso do método científico na Sociologia é a última, da INTERPRETAÇÃO, que busca compreender melhor o que se pesquisou, formulando explicações para determinado problema. É o que Durkhéin faz, ao fim de sua pesquisa, ao dizer o que caracterizaria o suicídio de maneira geral (perda de laços sociais) e na sociedade moderna (aumento da anomia).


Referência



MANN, Peter H. Métodos de investigação sociológica. Rio de Janeiro, Vozes, 1975.



O SENSO COMUM:



Durante nossa vida cotidiana vamos adquirindo várias aprendizagens, pela via do hábito e da tradição, que passam de geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar a rua, a fazer a televisão funcionar, a plantar alimentos na época e de maneira correta. Com nossos amigos e colegas aprendemos a paquerar, a ficar ou a pedir para namorar a pessoa que desejamos, a nos comportarmos em sala de aula, no trabalho, e assim por diante.

Na vida cotidiana, as teorias científicas são simplificadas, quer seja para viabilizar seu uso no dia-a-dia, quer seja pela interpretação sempre singular dos fatos vividos, que muitas vezes parecem contradizer as considerações feitas pela ciência. É justamente o conhecimento que vamos acumulando no nosso dia-a-dia que é chamado de senso comum. O senso comum mistura e recicla saberes muito mais especializados e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma determinada visão-de-mundo.

O senso comum vai integrando, ainda que de um modo precário, todo o conhecimento humano, produzindo para cada pessoa ou grupo social um modo particular de interpretar os fatos e o mundo que o cerca. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, construído muitas vezes de tentativas e erros, a nossa vida no dia-a-dia seria muito complicada. E é na tentativa de facilitar o dia-a-dia que o senso comum produz suas próprias "teorias" médicas, físicas, psicológicas etc.

O que é ciência?

A ciência é uma atividade reflexiva, que procura compreender, elucidar e alterar o cotidiano a partir de um estudo sistemático e não simplesmente da adaptação à realidade. Quando fazemos ciência, afastamo-nos da realidade para compreendê-la melhor, transformando-a em objeto de investigação - o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real.

A ciência é composta de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade.

A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção (isto é, busca-se atingir a neutralidade), para, assim, tornarem-se válidas para todos, ou seja, poderem ser generalizadas em todas as situações.

Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicos, processo cumulativo do conhecimento e objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite denominarmos um conjunto de conhecimentos de científico.


 
 
Método científico vs. não-científico (senso comum)



Senso comum
= problemas abordados sem profunidade, baseados na primeira impressão.

Sem explicações satisfatórias para explicá-los. Crenças comuns baseadas em juízo de valor e sem abordagem sistemática e organizada de verificação da realidade: ‘as maes sempre estao certas’, ‘o funcionalismo público é ocioso e burocrático’, ‘mulher dirige mal’, ‘todo político é corrupto’, etc.
 
 
Senso crítico=
problemas abordados e pensados de forma metódica e organizada. Recusa juízos

de valor sobre os fatos sociais. Mães, mulheres e políticos, por exemplo, possuem

alguns traços comuns de comportamento pelo papel social que desempenham e que dizem

respeito ao meio em que estão, mas as suas características e condição não é inerentes a

eles. O senso crítico baseia-se em regularidades.

Passos a serem seguidos na pesquisa social

1. Definição do problema. Levantamento

bibliográfico 2. formulação de hipótese 

3. escolha do tipo de pesquisa a ser adotado

 4. levantamento dos dados  5. análise e

discussão dos resultados  6. conclusão com

resultados.
 
Características do método científico


1. Conclusões devem ser baseadas em fatos e

evidência empírica

2. Rigor e neutralidade

3. Revisão de pares

4. Comparação e repetição (amostras grandes)

para permitir generalizações ou validade

externa

5. Relacionar teoria e prática